E SE EU ACERTAR A QUINA?

* Milton Medran

"Se eu não aparecer no trabalho, na segunda, é porque ganhei na sena!". Quem já não ouviu essa frase, numa sexta-feira, em fim de expediente?

            Não foi isso que fizeram aqueles vinte funcionários de um restaurante, em São Paulo, sortudos acertadores de um bolão que rendeu mais de 600 mil a cada um deles. Festejaram, avisaram o patrão que deixarão o trabalho, fizeram uma caixinha para os demais colegas que não tinham entrado no bolão, e só se demitirão depois que tiverem substitutos.

            Quem acredita que o trabalho é uma maldição bíblica, condenação de um deus irado pela desobediência do homem e da mulher, até pode achar que o dinheiro caído em suas mãos, num episódio assim, é uma graça divina a dispensá-lo de trabalhar. Mas não é. O trabalho sempre dignifica o espírito, elevando-o à condição de coconstrutor do mundo.

            Allan Kardec indagou dos espíritos se estaria isento do trabalho quem tivesse bens suficientes para garantir a sua subsistência. "Do trabalho material, talvez." – responderam as entidades espirituais, na questão 679 de O Livro dos Espíritos - "Não, contudo, da obrigação de se tornar útil, de acordo com suas possibilidades, nem do dever de aperfeiçoar sua inteligência ou a dos outros". A sentença termina assim: "Quanto maior for a cota do tempo livre, maior a obrigação de se fazer o bem".

            Os garçons, cozinheiros e faxineiros daquele restaurante paulistano poderão até mudar de atividade. Mas, não estarão isentos do trabalho. Até porque "a quem muito se deu, muito será pedido".

            Se um dia eu acertar na mega sena, vou continuar fazendo tudo o que faço. Inclusive esta coluna, trabalho voluntário que enriquece minha alma e, talvez, a alma de alguns leitores.

 

*Milton Rubens Medran Moreira é advogado, jornalista e Diretor do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre - RS

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